Esta edição do jornal O Sísifo apresenta como tema central a questão do meio ambiente e suas consequências, como a migração haitiana.

A primeira matéria, “Política e ambiente no Brasil”, de José Dettoni, oportuniza ao leitor refletir sobre a prática da atual política brasileira em relação ao meio ambiente, a partir de nossa relação vital com a ecologia e a partir da referência a Paulo Freire (tema de abril do jornal O Sísifo).

Dando continuidade, Clarides Henrich de Barba, com a matéria “Temática Ambiental no ensino superior e seus reflexos nas práticas educativas na escola pública”, desenvolve, pela realidade de Rondônia, a pertinência da Educação Ambiental na formação de professores a fim de se alcançar, por consequência, a escola básica.

Encerrando a edição, Geraldo Castro Cotiguiba, em “Efeitos multifatoriais sobre migração: o caso haitiano”, mostra-nos a questão ambiental por meio da análise do movimento migratório haitiano no Brasil.

Desde 1500, o Brasil está a serviço de interesses econômicos orientados por uma racionalidade instrumental. Por meio de uma visão predominantemente exploratório, esse território foi colonizado e subjugado pelos interesses políticos e econômicos dos países europeus e mais tarde também dos Estados Unidos da América. Subjugados pelo imperativo de dominar a natureza para satisfazer a ambição das elites detentoras dos meios de produção e do poder financeiro. Já nas primeiras décadas após o descobrimento, os invasores exauriram o pau-brasil. Após brutal desmatamento, continuaram a exploração por outras vias, os famigerados ciclos – do sertão, da borracha, do café, do açúcar, do ouro, do gado –, sendo que cada um deles levou às últimas consequências a exploração da natureza e da vida humana. Em meados do século XVIII, a Coroa portuguesa, de forma fragmentada, proibiu a utilização de madeiras de lei na indústria naval, a devastação dos mangues e a exploração das minas de metais preciosos como medida preservacionista. No entanto, essa proibição não partiu do questionamento e da busca da raiz do problema ambiental, que era e é o tipo de economia destruidora do meio ambiente local. Outros exemplos de medidas protetivas – como a criação a partir de 1937 dos parques nacionais de Iguaçu, no Paraná, e Itatiaia e Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro – constituem manifestações de cuidado da natureza. Mais do que cuidado, a criação deles são expressões de uma economia imediatista, que desintegra a longo prazo a produção das potencialidades e limitações naturais. Isso acontece porque a economia está nas mãos de um pequeno grupo de “rapineiros”, que buscam concentrar para si o máximo possível das benesses produzidas pelos trabalhadores. Eles, irresponsavelmente, não zelam pelas consequências da exploração irrefreada da natureza, considerada por eles como mera fornecedora de matéria-prima. Outro exemplo de descaso ambiental, resultado da economia política dos anos 1970, foi a centralização da política ambiental para focar unicamente na poluição nas áreas urbanas. Ação que reforçava a ideia de deixar o restante do meio ambiente desprotegido para os caprichos destruidores da mentalidade economicista vigente. Mesmo essa incipiente iniciativa não é resultado de um compromisso ecológico com nossa “casa comum” no Brasil. É consequência da repercussão da Conferência de Estocolmo sobre o meio ambiente. Vale ressaltar que nela o Brasil defendeu que o setor produtivo tinha que crescer rapidamente, pois os recursos naturais são abundantes e inesgotáveis (contra essa visão, Ghadhi defendia que o planeta possui, sim, o suficiente para atender às necessidades de todos os seres humanos, mas não possui o suficiente para atender à ganância desenfreada de algumas pessoas). O presidente Médice, prestando conta às cobranças da mentalidade ambiental, criou a Secretaria do Meio Ambiente. Criada de maneira astuciosa, tratavase de uma secretaria cujas ações eram limitadas e circunscritas à administração direta do Ministério do Interior, responsável pela política produtiva do Brasil. Este presidente, do período militar, representa outro pequeno exemplo da manifestação do controle que a classe detentora do poder econômico exerce sobre o governo através de sua política. Mesmo com a formulação da Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981, e com a Constituição de 1988, o avanço na área ambiental ainda se restringiu à consolidação do licenciamento ambiental como mecanismo de gestão para normatizar a relação entre meio ambiente e economia. Ambos, Política Nacional do Meio Ambiente e Constituição, são expressões da subserviência ecológica aos setores produtivos. Mas o que fazer diante do descompasso e das contradições entre a política ambiental e a política econômica em nosso país? Sabemos que a solução só é possível por meio do engajamento e da mobilização conjunta, pois não se trata de um problema individual, e sim de um problema coletivo que nos atinge aqui e agora, além de também às futuras gerações.

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